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26 de Abril de 2024

Sem tempo para sonhar: EUA têm mais negros na prisão hoje do que escravos no século XIX

No dia histórico do discurso “eu tenho um sonho”, de Martin Luther King, panorama social é dramático aos afrodescendentes norte-americanos

Publicado por Francisco Luciano
há 9 anos

O presidente norte-americano, Barack Obama, participa nesta quarta-feira (28/08) em Washington de evento comemorativo pelo aniversário de 50 anos do emblemático discurso “Eu tenho um Sonho”, de Martin Luther King Jr. - considerado um marco da igualdade de direitos civis aos afro-americanos. Enquanto isso, entre becos e vielas dos EUA, os negros não vão ter muitos motivos para celebrar ou "sonhar com a esperança", como bradou Luther King em 1963

De acordo com sociólogos e especialistas em estudos das camadas populares na América do Norte, os índices sociais - que incluem emprego, saúde e educação - entre os afrodescendentes norte-americanos são os piores em 25 anos. Por exemplo, um homem negro que não concluiu os estudos tem mais chances de ir para prisão do que conseguir uma vaga no mercado de trabalho. Uma criança negra tem hoje menos chances de ser criada pelos seus pais que um filho de escravos no século XIX. E o dado mais assombroso: há mais negros na prisão atualmente do que escravos nos EUA em 1850, de acordo com estudo da socióloga da Universidade de Ohio, Michelle Alexander.

Sem tempo para sonhar EUA tm mais negros na priso hoje do que escravos no sculo XIX

“Negar a cidadania aos negros norte-americanos foi a marca da construção dos EUA. Centenas de anos mais tarde, ainda não temos uma democracia igualitária. Os argumentos e racionalizações que foram pregadas em apoio da exclusão racial e da discriminação em suas várias formas mudaram e evoluíram, mas o resultado se manteve praticamente o mesmo da época da escravidão”, argumenta Alexander em seu livro The New Jim Crow.

No dia em que médicos brasileiros chamaram médicos cubanos de “escravos”, a situação real, comprovada por estudos de institutos como o centro de pesquisas sociais da Universidade de Oxford e o African American Reference Sources, mostra que os EUA têm mais características que lembram uma senzala aos afrodescendentes que qualquer outro país do mundo.

Em entrevista a Opera Mundi, a professora da Universidade de Washington e autora do livro “Invisible Men: Mass Incarceration and the Myth of Black Progress”, Becky Pettit, argumenta que os progressos sociais alcançados pelos negros nas últimas décadas são muito pequenos quando comparados à sociedade norte-americana como um todo. É a “estagnação social” que acaba trazendo as comparações com a época da escravidão.

“Quando Obama assumiu a Presidência, alguns jornalistas falaram em “sociedade pós-racial” com a ascensão do primeiro presidente negro. Veja bem, eles falaram na ocasião do sucesso profissional do presidente como exemplo que existem hoje mais afrodescendentes nas universidades e em melhores condições sociais. No entanto, esqueceram de dizer que a maioria esmagadora da população carcerária dos EUA é negra. Quando se realizam pesquisas sobre o aumento do número de jovens negros em melhores condições de vida se esquece que mais que dobrou o número de presos e mortos diariamente. Esses não entram na conta dos centros de pesquisas governamentais, promovendo o “mito do progresso entre nos negros”, argumenta.

Segundo Becky Pettit, não há desde o começo da década de 1990 aumento no índice de negros que conseguem concluir o ensino médio. Além disso, o padrão de vida também despencou. Além do aumento da pobreza, serviços básicos como alimentação, saúde, gasolina (utilidade considerada fundamental para os norte-americanos) e transportes público estão em preços inacessíveis para muitos negros de baixa renda. Mais de 70% dos moradores de rua são afrodescendentes.

Sem tempo para sonhar EUA tm mais negros na priso hoje do que escravos no sculo XIX

Michelle Alexander, por sua vez, critica o sistema judiciário do país e a truculência que envia em massa às prisões os negros. “Em 2013, vimos o fechamento de centenas de escolas de ensino fundamental em bairros majoritariamente negros. Onde essas crianças vão estudar? É um círculo vicioso que promove a pobreza, distribui leis que criminalizam a pobreza e levam as comunidades de cor para prisão”, critica em entrevista ao jornal LA Progresive.

Fonte:http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/30858/sem+tempo+para+sonhar+eua+tem+mais+negros+na+pr...

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18 Comentários

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A acusação é a de que o Judiciário americano é racista. É isso mesmo?

Fica fácil pegar um dado completamente abstrato (grandes porcentagens de negros nos presídios) e imputar inúmeras causas e concausas para sua existência; mas pesquisar efetivamente como a experiência carcerária se desenvolve ninguém quer, não é mesmo?

Espanta-me esse pessoal se autodenominar pesquisador. E pior, lecionar nas faculdades de Direito do Estados Unidos. continuar lendo

Não. A acusação é que não há políticas públicas que garantam igualdade de oportunidades a negros e brancos no EUA. Apenas isso. continuar lendo

Porque o simples fato do país possuir um presidente negro não significa nada, não é mesmo? continuar lendo

Acho que todos deviam se preocupar menos com a cor dos outros... continuar lendo

Sábias palavras. continuar lendo

Se ''se preocupar menos com a cor dos outros'' significar se preocupar menos com a segregação racial e todas as formas de discriminação sofridas pelos negros desde a escravidão até os dias de hoje, eu estou fora. continuar lendo

Francisco Luciano, segregação racial, após o advento da democracia e principalmente nos Estados Unidos (potência mundial que possui um presidente negro), é meramente um constructo social. continuar lendo

Também acho. E fingir que racismo não existe e que a população negra desfruta dos mesmo benefícios dos brancos. continuar lendo

Lá, pelo menos, tanto a sociedade como as autoridades e os pesquisadores reconhecem a existência desse grave problema e buscam, de alguma forma, alternativas para enfrentá-lo, ao contrário daqui, em que a sociedade,as autoridades e a academia afirmam, com base no discurso hipócrita e mentiroso de que no Brasil há uma relativa igualdade racial, que ele (problema) não existe. continuar lendo

Fim da escravidão nos EUA e Brasil foram muito diferentes.

Lá os ex-escravos sofreram com a separação das raças e os direitos desiguais.

Aqui os ex-escravos sofreram com a miséria, a maioria que antes mesmo como escravo tinha um teto e o que comer (não que a escravidão fosse justificavel por isso) foram jogados para fora das fazendas sem nada nos bolsos e sem conseguir empregos

O problema no Brasil é um pouco diferente do problema dos EUA. continuar lendo

É bom se ter esta notícia, onde retrata a verdadeira condição dos como sendo da liberdade, na verdade há uma escravidão que não acabou, qual seja , as injustiças sociais. lá como aqui, tem seus vergonhosos problemas, só aqui jogam pedras como adjetivo de ser 3º mundo, afrodescendentes americanos, pois se vê que no país que se intitula e lá o que é na verdade.
. continuar lendo